segunda-feira, 22 de novembro de 2010

TIME OUT - THE DAVE BRUBECK QUARTET

Bom gosto, é a primeira coisa que me vem à mente quando ouço o disco sobre o qual quero escrever agora. Não,  meninos, nada de bossalidade. Nada metido a besta. Mas é “Time Out” de Dave Brubeck e seu “Dave Brubeck Quartet ( Dave Brubeck – piano, Paul Desmond – saxofone alto, Eugene Wrigth – contra-baxo e Joe Morello – bateria)”. É complicado apresentar o jazz a uma pessoa que não o conhece ainda. Você pode fazer alguém odiar “injustamente” este estilo se não souber fazer a aproximação correta. Quando quero apresentar alguém ao mundo do jazz, este disco é um dos que indico preferencialmente. Este disco foi gravado em 1959  e  daqui a três mil anos ainda vão estar tentando alcança-lo. 
“Blue Rondo á La Turk” abre a farra. Contem 1-2, 1-2, 1-2, 1,2,3 e vocês terão um 9/8 incomum.  Mas apesar de inusitado, não assusta, e é bastante acessível por sinal. A melodia é forte e lhe arrebata de imediato. O piano inicia e é seguido pelo sax em uma melodia “buliçosa”, quero dizer...ela mexe com você e faz você querer saber aonde vai te levar. E aí está a questão. Ela te leva, você vai, e quando acaba....você quer a próxima.
Ah sim, a próxima. “Strange Meadow Lark”,  suave, e extremamente elegante. De novo o piano...Dave tocando notas de um jeito que te faz lembrar imediatamente algum bar bem frequentado, e você chega a ouvir os copos ( hehe ) .  Te faz lembrar alguns filmes.
Depois de ter escutado com atenção até aqui, voce está preparado para  “Take a five”. Sobre esta nem vou dizer nada, prefiro deixar como surpresa. “Three to get ready”... alguma coisa de valsa aparece por aqui. Parece que o sax está contando uma história divertida. “Kathy’s Waltz”, começa em 4/4 e depois vira valsa. Esta Dave fez para a filha, então calcule o carinho que ela carrega.
“Everybody’s jumpin’”  e “Pick Up Sticks” são em minha opinião as mais exigentes para o ouvinte. Mas ao chegar até elas o ouvinte já está jazzificado o suficiente. Mas se quiser pode dar uma paradinha, e depois voltar. Então quando acabar de ouvir este disco, pode dizer...já escutei jazz.

Abraços.

 



 

domingo, 14 de novembro de 2010

Transa - Caetano Veloso

Sou fã de Caetano desde meu nascimento, disto eu tenho certeza. Inclusive sou de uma geração que costumava esperar a musica que Caetano faria para o carnaval. Pois havia esta coisa da gente esperar a música de  Caetano para o carnaval. Bons tempos...boa música. Mas não é sobre o carnaval que quero falar. Quero apresentar um disco que acredito seja pouco conhecido por esta nova geração. Transa, foi lançado em 1972 e possui arranjos assinados por Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa, informações estas colhidas do próprio site do cantor. Eu comprei o vinil já no início dos anos oitenta. O que me prendeu logo de cara neste disco foi a sonoridade crua e quase minimalista, em minha opinião é claro. Quando coloquei pela primeira vez o vinil para tocar ( sim meninos, eu ouvi muito vinil, graças a Deus), pude sentir um clima de músicos se divertindo. Você quase vê os caras dentro de um estúdio em uma sessão animada regada a muito talento e inspiração. Basta ouvir o violão abrindo a primeira faixa. Um baixo e uma bateria econômica seguem logo depois na medida certa e Caetano entra...”You don’t know me”.O resto só ouvindo. Meninos, não se deixem enganar com a falsa simplicidade aparente aqui. Eu não devia falar, devia deixar como surpresa, mas não consigo...A maravilhosa voz de Gal Costa completa o cenário.  Só mesmo Caetano para falar de reague em um adorável tema jazzístico ( para meus ouvidos, não me condenem) chamado “Nine out of tem”. Acho fantástica a parceria Caetano e Gregório de Mattos em “Triste Bahia”. O ritmo no final desta música, crescendo entre afoxé e capoeira, me fez imaginar o poeta em uma roda de capoeira  no mercado modelo ( devo estar trêbado agora ao escrever isto). A percussão dança em nossa mente enquanto o violão continua presente e forte em acordes  num ritmo constante. É quase rústico, quase em nosso quintal.  “It’s a long way” dá uma chegada no sertão. Mesmo sem sanfona, mesmo ainda com percussão e violão dominando a cena, a poesia nos fala dos óios da cobra verde que só hoje arreparei. Quando acaba este tema, uma pulsação estranha vem do contrabaixo. Só o baixo, pulsando, um coração ditando qual será o ritmo. Um ritmo magoado, de Monsueto Menezes. Seria um  "samba canção"  em sua origem? Não sei...descubram meninos! Sei que este disco “Mora na filosofia” . “Neolithic man” vem logo depois. Não sei se tenho uma faixa preferida neste disco, mas esta tem meu carinho especial. Por que? Não sei. Acho que por que na primeira vez que a ouvi, ela entortou minha percepção. Eu não sabia como definir o que estava ouvido. Simplesmente estava gostando. E o final caótico, afirmando que minha "vovó só tem pelanca só", enquanto a percussão castiga. E finalmente a “Nostalgia”. Claro,  para quem não sabe ainda...Caetano é rock,blues,xote,xaxado,samba e baião. Para finalizar, costumo dizer aos meus amigos,  não se conhece Caetano se ainda não se ouviu  “Transa”.