quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Da Bahia para o mundo, o mundo na Bahia! JAM NO MAN !!!

Sábado, seis horas da tarde. Sentado em um banco de frente para o um palco que tem ao fundo o mar de Salvador, esvazio minha latinha de cerveja e sinto pena dos que não estão ali junto comigo. Infelizmente começo a pensar que nem parece que estou em Salvador, ou talvez tudo me diga que estou e só podia estar em Salvador. Mas, onde quer que eu esteja, estou no JAM NO MAN. Estou ouvindo Jazz da melhor qualidade, tocado por músicos soteropolitanos  e de qualquer outra parte do mundo que por acaso tenham aterrisado por ali hoje. O "ali"  é o Museu de Arte Moderna. Logo ali...na Av Contorno S/N, no Solar do Unhão. E para aqueles que se limitam a reclamar da atual música baiana ( os "rebolations" da vida ) eu digo que é só procurar que acha. Eu adoro jazz, e sempre senti falta disto aqui em Salvador. Não sinto mais...vejam porque...






André Becker ( Sax alto e flauta ), André Magalhães ( Piano ), Gabi Guedes ( Percurssão ), Ivan Bastos ( Spalla e baixo ), Ivan Huol ( Bateria e direção musical ), Joatan Nascimento ( Trompete e flugelhorn ), Orlando Costa ( Percurssão ), Paulo Mutti ( Guitarra) e Rowney Scott (Sax soprano e tenor) compõem a banda base que recebe os convidados sempre super especiais,  para as jam sessions fantásticas que são a alma dos encontros. E eu do meu lado, só bebendo e apreciando que não sou besta nem nada. Abro aqui um parêntesis para reforçar, como se necessário fosse, que o ambiente é agradabilíssimo, e  o nível das pessoas que ali frequentam é de altíssima qualidade. Não há bagunça, nem empurra-empurra. As pessoas estão ali para ouvir. E ouvem! O pessoal por trás deste evento coloca na prática um discurso que venho arrastando comigo a anos...Mais útil que ficar falando mal da música dita "ruim" é procurar meios para possibilitar que se toque(quem toca)  e se ouça a música boa(quem ouve). Ou seja, quem toca deve se unir para fazer surgir a oportunidade, e quem gosta de ouvir boa música deve prestigiar quem quer tocar boa música...Aí as coisas acontecem. E como acontecem. Antes que eu esqueça de avisar... na lateral direita desta página  está o link para o site do JAMNOMAN. Vão lá conhecer melhor este trabalho!
Claro, já estou na quarta lata, preparando o espírito para o próximo sábado, hehe. Não sei quem vai estar por lá tocando, para mim é sempre surpresa, e eu gosto mais assim. Nestas horas consigo não sentir inveja da vida cultural de outras cidades "grandes", pois posso afirmar que há vida inteligente no movimento musical da cidade da Bahia, hihi. E fico com orgulho de ser bahiano e preto ( sim, senhores donos do politicamente correto, eu sou preto meu nêgo, nada de afrodescendentalismos amenizadores do que não precisa nem pode ser amenizado. Me orgulho de minha raça e pronto.) E o jazz meu amigo, tem mão de preto no couro! Hehe.
Agora...só uma coisa me intriga, além do beijo de amor que não roubei...não se ouve jazz tocando nos carros no último volume, nem nos celulares nos ônibus cheios. Por que será? Sei lá. No mais,  vou ficando por aqui, enquanto a cerveja não acaba. Até mais ver!!!!!!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Podes crer amizade, podes crer. Toni Tornado, o mestre do soul brasileiro.

Em 1972 eu tinha nove anos. Não sabia dizer direito o que sentia ao ouvir aquele som pulsante e vibrante. E aquela dança? Era um som que estava em mim, e eu estava no som. Eu precisava saber o nome do dono da voz e da dança, e me disseram...Toni Tornado. Naquela época não era fácil. Hoje ainda não é, mas naquela época era mais difícil. Então eles tinham de ser bons. E Toni Tornado era bom. Fico realmente triste quando vejo e ouço o que se tem apresentado por aí como se fosse Funk. Não vou entrar na discussão, mas antes pediria a estes que chamam os bondes da vida de Funk, que escutem James Brow, Funkadelic...e Toni Tornado. E Toni fez o que os mestres gênios fazem, trouxe a África do Funk de lá,  e misturou com a África  daqui. E podes crer amizade, ficou legal demais. Não, ele não falava de "cachorras" ou algo parecido. E a dança era um requebrado cheio de rítimo. E se havia algo de sensual não havia nada de pornográfico. Naqele tempo se fazia sexo no quarto, e não no palco. Era apenas música e dança. E Toni dançava, deslizava no palco como um herói negro cheio de "black power". Sim meninos, tinha tambem isto..."The black power". O poder negro reinvindicando o espaço devido àquele povo recém-saído da escravidão. Então não havia tempo  para bobagens como rebolar feito "cachorras" e achar que é arte, ou que é liberdade de expressão. Não havia espaço para falta de talento e/ou inteligencia. "A gente corre na BR-3, a gente morre na BR-3" já cantava o mestre. E fico feliz ao ver este menino aos oitenta anos cantando inteiraço e ainda esboçando o seu eterno gingado cheio de saúde. Meninos...música boa faz bem à saúde. Ah mas não falei ainda do disco que estou recomendando.Chama-se Toni Tornado 1972, e traz surpresas. Quem se aventurar a ouvir irá se surpreender logo na primeira música...Mané Beleza. E se ouvir enquanto ler estas linhas irá me perguntar...Mas voce não falou tanto de funk, de soul music? Então por que estou ouvindo algo parecido um baião,  ou xaxado, sei lá? Aí então depois de rir um pouco eu respondo...Ora, eu náo falei da Africa de cá? Não falei que ele é sábio? Perguntem aos mestres sobre qual a matéria dos clássicos?!? "E nem metade eu contei, nem mais eu posso contar...".
Mas não quero "Grilar a sua cuca", não faço isto não. Quero apenas que faça o favor de prestar atenção aos naipes de metal a partir da segunda música. Engraçado, eu tinha apenas nove anos quado este disco foi lançado. E ainda hoje todas a frases gritadas neste disco fazem sentido, e como ele eu tambem duvido muito. E galera, sinceridade...não venham me falar que a voz não é uma super voz, e etc e tal. É muito nelhor que noventa por cento do que eu ouço hoje. Ah e o órgão Hammond costurando a música  "Sinceridade" é tudo que eu procuro em qualquer som. E como era divertido falar a frase da ordem dia "Podes crer amizade...podes crer". Afirmação de honra, de verdade absoluta...pode acreditar. Era assim, assim ainda devia ser. Toni Tornado, sua benção mestre.








quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Violões, e muita emoção.

Eu era moleque ainda, e queria aprender a tocar violão. Então,  um dia achei um violão velho, esquecido nos fundos de uma igreja onde participava de um grupo de jovens e tambem trabalhava como auxiliar de escritório. Perguntei ao padre se tinha dono, e ele disse que não, que estava ali abandonado fazia algum tempo e se eu quisesse poderia ficar com ele. O bichinho estava meio castigado, mas o levei até um luthier recomendado por amigos e após o conserto, comecei minha jornada atrás do aprendizado. Uns acordes com os amigos aqui, umas aulas quando podia pagar ali,  e ia levando. Mas foi a curiosidade e a as dicas de audição dadas por um velho professor chamado Daniel Damasceno, que me acenderam a luz da paixão definitiva pelo instrumento. Meu pai costumava dizer em tom de desafio:"Quero ver é você  'debulhar' as cordas". Eu não sabia muito bem o que ele queria. Então eu tive o primeiro contato com um moço chamado Baden Powell. Eu estava assistindo um programa de entrevistas na televisão e ele apareceu. Quando ele começou a tocar eu tive instantâneamente a revelação. E disse para mim mesmo: " é isto que meu pai fala. Ele está debulhando as cordas do violão" . E desde então meu olhar sobre o violão não foi mais o mesmo.
Aí eu entendi que debulhar significava fazer mágica com os dedos. E Baden Powell fazia isto. Não é à toa que ele era conhecido na Alemanha com "dedos mágicos". Mas foi isso que o violão passou a significar para mim...magia. E particularmente o violão brasileiro. Orgulhosamente podemos dizer que criamos uma escola, baseada em mestre de altíssimo kilate. E Baden não foi o primeiro e nem foi o úlimo graças a Deus.
Turíbio Santos...Eu sempre o vejo como um professor abnegado, além de virtuose. Falo assim porque já escutei ele dandos umas dicas preciosas, apenas ao conversar. E não esqueci jamais. Claro que tenho um vinil onde ele toca os "doze estudos para violão e o choro número um" de Villa Lobos. Então quando se falar de Turíbio, diga-se "o erudito". Mas o universo de nosso violão é sem fim. E nada como um violão ao fim da tarde. Falando manso e carinhoso. Com cheiro de café sendo coado. Violão lembra alpendre, não sei porque. 
Dilermando Reis...parece que ainda sou recém chegado do interior. Cheio de saudades dos riachos e dos passarinhos cantando na goiabeira. Não tem nada mais brasileiro que o violão de Dilermando. É preciso que se ouça, se compre os discos de Dilermando. Não dá pra explicar a emoção de ouvir seu violão. Tivesse eu direito a mais dez vidas, eu as dedicaria a estudar a música destes gênios loucos do violão. 
Ah, e tem aqueles que fazem tudo parecer fácil. Assim fazia o saudoso Raphael Rabelo. Aí eu dizia, pôxa, não deve ser tão difícil assim, ele faz tudo tão suave e poderoso ao mesmo tempo. Vou estudar mais. Obrigado gênio Raphael. Ainda estou tentando.
E esse grande mestre chamado Paulinho Nogueira. Ensinou a Toquinho, e eu tentei pegar carona nas lições. Ainda navego em seus acordes. Tenho as partituras de seu livro. De vez em quando eu tento. Nada é tão tranquilo quanto este moço era ao violão. Parecia um pai tocando. Sua benção mestre.
Bom, este menino Paco de Lucia não é brasileiro. Mas é uma da minhas grandes influencias no ato de ouvir violão. Foi meu segundo disco de violonista que comprei lá pelos anos oitenta, quando comecei minha jornada pelo mundo do violão. Então ele tem lugar cativo em meu coração. E é sem dúvida um dos maiores nomes no violão flamenco. Olé.

Até e abraços.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sitio do Picapau Amarelo, pra quem um dia foi criança!


"Marmelada de banana, bananada de goiaba, goiabada de marmelo...Sítio do Picapau amarelo". Ahh, não sei pra que o tempo passa. E passa de modo inexorável, traiçoeiro, silencioso. Não faz alarde dos anos que estão se indo, nem das rugas que estão chegando. Sentimos sua presença, quando sentimos saudade. E dentro do universo que compõe minha saudade está o planeta "Sítio do Picapau amarelo". Está Dona Benta, está Tio Barnabé. Está tambem Sinhá Anastácia, o Visconde de Sabugosa. Emília, Pedrinho, Narizinho. Tantos pedaços de saudade. Mas deixe eu mostrar o início da trilha destas emoções:

 Pois é. Haviam aventuras a serem imaginadas. E as crianças imaginavam! Ora se não!Quem não se assutava com a cuca e o saci. Ora vejam só. Meninos com medo da mula sem cabeça. Tudo nascido das histórias vindas pela voz doce de Dona Benta. Não sei quem inventou que hoje a inocência é pecado. Há que se aprender a acreditar para aprender com o sábio sabugo espiga de milho bobo sabido doido varrido nobre de vintém. Mas faz de conta que hoje ainda é ontem, e então eu posso sonhar. E sonhando estou conversando com Pedrinho lá no quintal. Falando de aventuras no fundo do mar enquanto mordo uma goiaba tirada do pé. Não, não, meninos, não estou jogando um megasuperultrapowercheiodemegabytes jogo enfadonho qualquer. A côr não é era medida em pixels, era medida em intensidade. Era o azul do céu, o verde do mar e todo o resto do arco-íris. E as aventuras ao lado de Hércules e outros tantos heróis eram cheias de cores.
Havia uma felicidade latente naquelas horas em que sorríamos com a boneca feita de marmelo. Boneca de pano com o coração mais coração que qualquer outro coração feito de músculos e carne. Essas "horas" sempre ocorriam lá pelas cinco horas da tarde, um pouco antes da hora do banho. Um banho para o qual íamos já com a alma lavada.



Até mais e bons sonhos. Ah procurem o disco mostrado na primeira imagem. Se tiverem sorte, acharão.
Bjos.











sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Yoko Ono - Melancolia em 1981 - Season of Glass


Andando sobre gelo fino. Assim eu me sentia em 1981, ano em que o disco "Season of glass", de Yoko Ono, foi lançado, aproximadamente após sete meses da morte de John Lennon. Quando chegou em minhas mãos, eu tinha perdido um querido amigo  a pouco tempo.Então toda a tristeza existente naquele acetato, encontrou eco em meu coração, e faixas como I don't known why,  no no no, foram tomadas emprestadas por minha alma cheia de lágrimas. Mas o porque, ficou sem resposta. Deixe-me dizer uma coisa, este disco não é para qulquer um. É principalmente para quem gosta de Yoko, e por conseguinte, não tem medo de experimentar. Muito embora este disco não seja um disco experimental, a voz desconcertante de Yoko, não costuma agradar a todos. Eu adoro. Neste disco ouvimos o lamento de uma mulher contra a estupidez do mundo, que sem maiores explicações resolve usar um louco para lhe tirar o homem que ama.  Decididamente não espere melodias lineares a todo o tempo. Na música No no no, voce será pego logo de inicio, por quatro disparos e o grito desesperado de Yoko. Depois, dentro da harmonia, ouvirá ela despejar suas frases de raiva e frustração, desmontando a melodia acompanhada todo o tempo por acordes em feitio de sirenes de ambulância. E ao final da música voce ouve a ambulância passando, te lembrando que alguem morreu. Mas não é somente desespero, é mais melancolia o que voce encontra nas outras faixas. Como um soluço sobre o final do choro, quando a lágrima seca, e parece que temos a súbita consciência que é pra sempre, e não há mais nada a fazer. Mas apesar da tristeza, é um disco que considero belo. E para quem não viveu o turbilhão de emoções que dominaram os anos oitenta, considero este disco uma excelente amostra. Cá com meus botões, considero este disco uma trilha sonora para uma melancolia. Tome um whisky, pois será a melhor companhia, ponha sua mídia preferida para tocar este disco, e sinta o que estou dizendo.






Até mais, galera. Abraços.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O último malandro - Kid Morengueira...ou Moreira da Silva se voce preferir



 Houve um estilo. Houve um único representante legítimo deste estilo. O estilo é o samba de breque,  o único representante foi o saudoso Moreira da Silva. Eu era pequeno e meu pai me ensinou a ouvir. Eu achava engraçado  aquele cara cantando histórias, cantando aventuras com uma música de incontestável qualidade como pano de fundo. Aquele ritmo cadenciado, aquele telecotelecoteco típico do samba original. Samba com pandeiro,  com piano, com violão,  com super naipe de sopros onde o piston tira a surdina e põe as coisas no lugar. E a voz de Morengueira é claro. E Morengeira era o rei do gatilho, e enfrentava 007 e ganhava a Claudia Cardinalli. Há que se ouvir, tem que se ouvir Morengueira. Procure por aí, garimpe, ache! Vale a pena. E se voce tiver a imaginação sintonizada com a emoção, voce vai imaginar a época em que estes sambas foram gravados. E chorando vai se indagar, por que não se faz mais isto hoje? Ah, e com certeza vai jogar fora todos os discos de "samba" que fazem hoje por aí. Sem falar nas baixarias pornofônicas dos dias de hoje.
Alguns haverão de achar incocentes por demais as histórias contadas por Kid Moreira. Mas... o que há de errado na sutileza? Eu não entro neste mérito, e apenas peço que ouçam e deixem sua sensibilidade dar a última palavra. Eu achei na rede estes que aparecem nestas imagens. Imaginem voce a cena..."Na gafieira segue o baile calmamente, com muita gente dando volta no salão. Tudo vai bem, mas eis porém que de repente, um pé subiu e alguem de cara foi ao chão." O resto só ouvindo a deliciosa "Piston de gafieira". E assim, histórias, malandragem, puro Morenguira. E francamente não troco isto por nada que é feito hoje. Não senhor, nada chega aos pés da sutileza marota dos senhores da malandragem.



Abaixo deixo uma grande parceria com o Chico Buarque. Aproveitem e até mais. Ah, ia me esquecendo ouçam estes discos.









segunda-feira, 20 de junho de 2011

Mestre Luiz Gonzaga. Xote, xaxado e baião. E viva São João!!

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O céu era estrelado, balões viajavam multicoloridos, disputando espaço com os rojões que deixavam uma trilha brilhante quais inquietos cometas carregados de sonhos. No chão, fogueiras crepitando em chamas a esquentar a noite e assar as espigas de milho que emprestavam mais um sabor àquelas noites encantadas. Esse era o São João de minha infância, e este é o São João que trago dentro de mim até hoje. E deste São João encantado, só uma coisa permanece intocável...A música de Luiz Gonzaga."Olha pra o céu meu amor, veja como ele está lindo..", isto pode parecer ingênuo para a maioria dos ouvidos de hoje em dia...mas temos realmente que perder a poesia? Acho que não. E mestre "Lua" é isto, pura poesia. Aquela voz, aquele aboio, aquele lamento. Quando ouço Luiz Gonzaga sinto um gosto de licor de genipapo invadir a alma. Aquela canjica que minha "tia avó" fazia do jeito que não se encontra mais hoje.Tudo isto vem junto com a voz de Gonzagão. O leitor reparou que não estou falando de nenhum disco em especial? Pois é, estou falando de "Mestre Lua" e qualquer disco dele é especial.
 Certa vez um colega de trabalho me falou que não achava Luiz Gonzaga um grande sanfoneiro no sentido de virtuosismo com instrumento. "Graças a Deus!", respondi de imediato. Luiz Gonzaga não era virtuose, não era chato. Luiz Gonzaga era "Luiz Gonzaga" !! O Rei do baião! O real embaixador da música nordestina para o resto do mundo. Aquela voz, aquela sanfona..precisa mais? Aconselho aos meninos que querem conhecer Luiz Gonzaga que procurem as tantas coletâneas que existem por aí. Depois garimpem os discos antigos do mestre. Não se prendam a detalhes técnicos das gravações, mas sim a força e a pureza da autêntica música nordestina na voz de um mestre menestrel. 


O vídeo abaixo mostra Mestre Lua em uma participação em um filme, em plena época de apresentação do baião ao resto do país:


Mais uma participaçao em filme:

Só um lembrete aos meninos...nesta época o nordeste era muito mais desrespeitado do que é hoje. Então pesquisem o contexto histórico para entenderem a importância de Luiz Gonzaga para a música brasileira ( particularmente a nordestina ).

Com certeza aqui não cabe tudo que se deve falar sobre Luiz Gonzaga, por isso espero dizer apenas e principalmente o essencial. Ele era um mestre que representava toda uma nação. Sua música não era fruto de inspiração, era fruto de sua vida vivida em sua terra, fruto de sua terra vivida em sua vida. Luiz Gonzaga e o nordeste, o nodeste e Luiz Gonzaga, amálgama da mesma couraça ( como já disse Zé Ramalho ). Então é bom saber, não se ouve o Mestre Lua e sai impune. Quando se ouve Gonzagão, o mandacarú se entranha fundo na alma, e a dor da seca nordestina, se mistura com a alegria da festa junina. Dos óio verde de Maria. Do cumpadi e da cumadi pulando a fogueira. Luiz Gonzaga, é e  sempre será a trilha sonora de meu São João. 
     Abraços, e olha pro céu meu amor.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mestre Jimi Hendrix! Vodoo Child !!



Olá rapaziada, após um pequeno lapso de tempo, estou de volta. E agora para falar de um cara ( não apenas um disco ) que é a razão pela qual eu desejei tocar um instrumento ( como se eu fosse o único  a dizer isto! hehe). Falo do mestre Hendrix! E claro que não posso falar sobre "um" disco específico de Jimi. Todos os discos  são imperdíveis. Os discos ao vivo,  nem todos são perfeitos, pois alguns são piratas ( então não são tão bons tecnicamente falando no sentido da gravação ) e é claro que em alguns shows ele estava cansado, e não tão inspirado, mas são a exceção e não a regra. Tudo isto à parte, eu amo todos os discos que possuo do Jimi. Aviso logo aos meninos, pra falar de Jimi é preciso ouvi-lo até cansar. E ouvir os discos de estúdio. Nos discos de estúdio podemos ouvir que mais do que um ás da guitarra, ele era um músico que fazia discos perfeitos. Ele não se preocupava em mostrar quantas notas por minuto era capaz de tocar ( como fazem hoje ) e sim em como seria  a música que iria criar. Os timbres, os efeitos, tudo era usado em nome da música. Blues, Funk, Rock, tá tudo lá.
 Não quero tentar aqui uma biografia ( isto existe por aí aos borbotões) nem um discografia exaustiva (os meninos têm a internet para isto. Hehe) Mas devo dizer que a formação que aparece na capa do disco mostrada acima é a minha preferida:  Mitch Mitchell - bateria,  Noel Reding - baixo e Jimi Hendrix - guitarra é claro, faziam o trio perfeito em minha opinião.Eu tive a sorte de ouvir Jimi ainda nos vinis ( Ahá! Melhor só quem viu ao vivo ). Confesso que a primeira vez que ouvi Jimi eu estava bêbado. Tinha de estar. Como eu poderia ouvir  "Hey Joe"  pela primeira vez e ficar sóbrio ? E "Purple Haze" ? Ainda hoje é necessária a pergunta...De onde vem aquele som ? Dos dedos e da alma. Só depois de ouvir no mínimo três discos de Hendrix dá pra entender que estes velocistas de hoje apenas disputam quem tem o dedo mais rápido ao invés de fazer música. Não me queiram mal,  mas um disco inteiro destes "dedos corredores" não valem  um único solo de Mestre Hendrix. Vejam abaixo:
 
Entenderam agora? Hehe! Sobre tocar coms os dentes, uma vez Jimi respondeu a um repórter: "Em algumas cidades, se voce não tocar com os dentes, eles atiram em voce". Para mim só existe um nome no mundo do pop/rock que se equipara à Jimi em termos de importância....Janis Joplin. Mas guardo para outro post. Alguns amigos me perguntam o que Jimi estaria tocando hoje se ainda estivesse vivo, e eu apenas respondo...Música de qualidade. 
No vídeo acima, voce ouve um mestre tocando uma música de outro mestre. Quem é o outro mestre? Hehe...pesquisem. Brincadeirinha...O outro mestre é o Chuck Berry. Hendrix é assunto infinito, mas não posso ficar idefinidamente aqui. Basta dizer uma coisa. Perguntem a qualquer guitarrista, em qualquer lugar do mundo, qual sua maior influencia...e anotem a resposta. Onze em dez, irão dizer...JIMI HENDRIX.

Aí pessoal, valeu e até a próxima. Vão correndo ouvir tudo que puderem de Jimi...e depois me contem.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Promoção no Destroyer !! Ganhe um DVD do LED ZEPELLIN

Aí gente boa! Quem curte o bom e velho Rock And Roll não pode perder esta. O blog DESTROYER do amigo GuilhermeM está realizando uma promoção onde o prêmio é um DVD dos caras. Aqui está o link:
http://destroyerockcity.blogspot.com/2011/04/promocao-led-zeppelin.html
Vamos prestigiar os colegas hehehehe.
E só pra refrescar a memória de quem conhece ou para apresentar a quem não conhece aí vai um pouco do LED:
Abraços e boa sorte a todos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Caravanserai! Viajando junto...com Carlos Santana.


Falando francamente, este não é um disco para iniciantes. É sim, para iniciados. Não aconselhado para quem ainda não conhece Carlos Santana. Obrigatório para quem já conhece. Voce não pode conhecer Santana por este disco, mas não pode afirmar que conhece Santana sem conhecer este disco. Foi gravado em 1972, marcado por mudanças na formação da banda, e no próprio som de Santana, que vinha nos seus tres discos anteriores determinando sua marca ao misturar salsa, rock  e jazz. Aqui temos, ainda, e talvez mais até, o jazz, porém quase somente instrumental. E eu acrescentaria, um algo até mais espiritual. Aliás, o som remete à capa. Voce viaja em uma caravana, sente o deserto, e sem dúvida vê o oásis. A percurssão comanda de fora a fora, sem obedecer a ningúem, a não ser a guitarra de Santana, o mestre da caravana. 
"Olhe para cima, para ver o que vem descendo",hehe. Para dar uma idéia do que esperar deste disco, basta dizer que aqui está "Stone Flower" de Tom Jobim. Santana e Tom Jobim. Quer mais ? É neste album que entra o percursionista cubano Amando Peraza(para mim um dos melhores do mundo). Falei no início que este disco não é para iniciantes, e sim, para iniciados. É que não se deve esperar um disco de guitarrista, com a guitarra ditando as regras. Não é assim que funciona com Santana, e neste disco muito menos. A música vem como deve vir, em grupo. Cada um fazendo sua parte e construindo assim, o todo. Santana, o mestre da alquimia, é humilde e apenas complementa, preenche os espaços entre a percussão, a bateria, os teclados, o contra-baixo, o vocal em algumas faixas. Mas não se engane, quando a guitarra grita suavemente uma frase, é uma majestade que está gritando suavemente uma frase. E voce, fatalmente, suavemente, displicentemente esquece todos os outros instrumentos, os coadjuvantes, e ouve o que Santana tem a dizer. E o que ele diz ? Ele diz...ouça aquele timbau, e este teclado. Sinta aquela bateria. 
Caravanserai, viajando junto, ao som de Santana. Não posso definir o som encontrado neste disco. É algo que não se explica, se ouve. Tudo que eu ousasse dizer aqui sobre as faixas do disco, só seria compreendido após a audiçao atenta e entregue do leitor. Se o leitor não alcançar este disco à primeira audição, por favor, não culpe o disco, nem culpe a si mesmo. Dê nova chance aos dois, e após a audição definitiva, com certeza irá perceber que já ouviu uma centena de vezes, por puro prazer.






sábado, 26 de março de 2011

Elba Ramalho...Ave de Prata...Capim do Vale...Elba Ramalho


Normalmente escrevo sobre apenas um disco em cada post aqui em meu blog. Mas neste caso não há outra saída. Meu coração ainda não decidiu de qual dos dois discos sobre os quais quero falar ele gosta mais. Quantas lembranças em cada um. Quantas tempestades de emoções. Quantos trovões sacudindo a alma. Mas tudo bem, cabem os dois em meu coração . E são eles Ave de Prata e Capim do Vale. Primeiro e segundo trabalhos de Elba respectivamente. São parecidos no som e nas lembranças. O mesmo mandacarú rasgando a carne, o mesmo carcará voando alto sob o sol. Após ouvir todo o disco Ave de Prata, fica a certeza: este disco era necessário, essa cantora tinha de existir. Canta coração, um recado de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, traz um sentimento morno ao coração. Uma guitarra que acredito ser de Robertinho do Recife ( me corrijam por favor se estiver enganado), faz meu "alegre coração triste como um camelo" chorar a ausencia da namorada. Primeiro disco, primeira música, primeiro impacto. Chico Buarque não poderia escolher alguem melhor para cantar Não sonho mais. Eu é que vivo sonhando com aqueles bons tempos. A sanfona lembra que o forró é bom, mesmo moderno. Não vou ficar aqui dizendo que antigamente se fazia discos com um time de primeiríssima linha de músicos, é só pesquisar a ficha técnica e confirmar. Zabumba, sanfona, triângulo e Elba Ramalho. "Eu sonhei contigo e cai da cama...diz que me ama e eu não sonho mais". Veja se não dá vontade de ver a lua nascer em uma cidadezinha do interior ao ouvir Veio d´agua. A voz de Elba causou estranheza naqueles anos efervescentes. Alguns diziam que ela gritava. Este meio que baião Razão de Paz deve ter ajudado neste engano. A voz forte e cristalina é alta e cortante. Eu adorei já na primeira palavra. Uma coisa a aprender com este disco e principalmente nesta faixa chamada Baile de máscaras, é o uso de elementos modernos perfeitamente casados com o tradicional. E esta música apesar de não ser nenhum hit, ou alguma obra prima, tem uma estrutura gostosa de ouvir, simples, franca e direta. Filho das Índias foge um pouco do clima, mas não estraga o disco. Mas a faixa título, Ave de Prata, esta sim é responsável pela emoção principal  que traduz o disco. Tinha de ser de Zé Ramalho. Violões e bordões e cavaquinhos e o lamento na voz de Elba. Bastava isto mas logo após temos Kukukaya - o jogo da asa da bruxa. "São quatro jogadores nesta mesa, frente a frente para jogar", eia, eia o jogo sujo da vida. E meu amor onde andava nestes tempos? Kukukaya eu quero voce aqui, presta atenção em mim. Ainda temos outras coisas...ouça o disco.
Uma cascavel armando o bote e balançando o maracá. A segunda investida, o mesmo som perfeito, ainda o nordeste queimando sob o céu azul sem sol dentro do Caldeirão dos Mitos. Forró, um fole de oito baixos no sertão. Quem já se apaixonou sabe o Nó cego que dá no peito. Essa canção tem algo de maracatú no sacolejo da voz de Elba somado a um som de cítara. Eitcha nóis. Pés de Milho, andarilhos como nossos filhos. Um naipe de cordas emoldura com elegância clássica a melodia andarilha desta canção. Pura emoção. Depois vem um revisitação de Légua Tirana de Luiz Gonzaga ( sua benção ) e Humberto Teixeira. Quem teve a felicidade de ouvir mestre Lua cantar esta música, sabe da responsabilidade desta moça recem-chegada ao mundo do estrelato da mpb. Porto da Saudade tem todos os elementos nordestinos, desde a letra, até o triângulo marcando sempre e até o fim da canção. O auge da reverência ao nordeste está na interpretação viceral de O violeiro de Elomar. Só Elba e uma viola ponteada. "Amor, forria, viola, nunca dinheiro. Viola,forria, amor, dinheiro não". Como disse antes, tem mais coisa no disco. Ouçam estes discos...eles são muito bons.

sábado, 19 de março de 2011

The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars - David "Classic Rock" Bowie

Um amigo me questionou, sobre a falta de postagens a respeito bandas novas neste meu blog. A princípio me quedei pensativo, mergulhado em uma severa auto-crítica. Estaria eu me portando como um velho birrento e chato, que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem ? Será ? Aí então chamei minhas filhas de dezoito e onze anos respectivamente, e pedi o nome de uma banda nova. Elas me deram alguns nomes, todos de dez anos atrás, e me pediram licença para continuar ouvindo meu disco de David Bowie ,"Ziggy Stardust". Este sobre o qual irei escrever agora. Ali estava minha resposta. Então eu pensei, não estou fora de sintonia, e continuo aberto ao novo. Apenas o novo não está vindo do meu agrado. E tenho que ser fiel ao meu propósito. Não importa se é novo ou velho, tem de ser bom. E por falar em ser bom, que tal um clássico pop de 1972 ? Cheio de androginia, ficção e uma boa pegada rock setentista...e muito talento. É um album conceitual, muito em voga na época. Um album conceitual, para quem não sabe, é um album em que todas as músicas tratam de um tema central. Como um enredo, uma história musicada. Existem lendas sobre  quem é Ziggy.Uns dizem ser um cantor metade alienígena, que fazia o clássico estilo selvagem, sexo&drogas,&rock and roll. Lendas à parte, a sonoridade do disco é típica de Bowie.
Hard rock total em momentos como Sufragette City, pop em baladas como a clássica Starman e deliciosamente indefinido em Ziggy Stardust. Mas, seja velho, atemporal ou seja lá o que,  eu quero, preciso, que me apresentem um disco feito nos últimos dez anos que se equipare a este, em som e criatividade. Dessa vez não quero me alongar muito. Não quero tomar o tempo do leitor. Quero sim, que você leitor, procure em algum lugar, e encontre rapidamente, e ouça atentamente este disco. Com certeza voce irá atrás de outros trabalhos de David Bowie. Talvez, voce passe a ter, assim como eu, às vezes, somente às vezes, a sensação de que a imaginação criativa parou, estancou no tempo,  a mais de vinte anos atrás.
 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Música eletrônica alemã com emoção! Pode? - Pornophonique


A minha música eletrônica   não é a que se ouve em raves por aí a fora. Ela ainda mistura bits e sentimentos. Paradoxo ? Talvez. Mas quem vem desde os tempos de Giorgio Moroder, passando por  Kraftwark sabe o que é isto. E quando deparei com este primeiro disco do grupo Pornophonique no site Jamendo, tive confirmada a certeza de que vale a pena ser fiel a você mesmo e ao que você acredita. Este disco  "8-bit lagerfeuer"  é fruto de um projeto iniciado em 2003 pelos artistas Kai Richter e Felix Heuse. Eles usam guitarra, um computador antigo c64 e um gameboy para criar seus sons. Como não obtiveram imediata atenção de gravadoras, resolveram colocar sua música na internet, logo obtendo mais de 40.000 ouvintes. Disponibilizaram suas músicas para download e logo alcançaram a marca de  600.000 audições no website  last.fm. Finalmente  em 2007,  lançaram este álbum,  e desde então vem realizando shows em vários países da Europa.
 Sad, sad robot...hehe. Este é pra quem não tem medo de música estranha. Desafio quem tiver coragem a baixar e ouvir este disco...depois me contem.

domingo, 13 de março de 2011

Adrianoijazz - Brazilian Music! Boa música instrumental do Brasil para o mundo!


Existe um lugar não muito longe do arco-íris, chamado www.reverbnation.com e que merece ser visitado. Foi lá, garimpando boa música como sempre faço, que me deparei com um projeto chamado adrianoijazz. Esse moço, Adriano Ribeiro, é um saxofonista de primeiríssima linha e isto pode ser comprovado ouvindo-se as faixas disponibilizadas no endereço  http://www.reverbnation.com/adrianoijazz. Vão lá conferir. Ele descreve seu estilo como Jazz / Lounge. Se me perguntassem, eu apenas diria  Jazz Fusion, o que não é pouco, nem fácil. Lembram de um cara chamado Coltrane? E um outro chamado Miles Davis?

O clima sofisticado criado pela música de Adriano Ribeiro me remete a um bourbon, um scotch, um bom local ao final de uma tarde qualquer. A 'Rita'  do Adriano, é a primeira música disponível para download. Os fortes acordes iniciais de cara me lembram o Alan Parsons Project. É mole? Gostei muito do teclado temperado com um chorus fazendo uma cortina harmônica para uma guitarra cristalina dividir a melodia com o sax. Apesar da cara lounge, dá pra sentir um sotaque brasileiro na fala da Rita, hehe. Bate bola na cruzada segue a linha da primeira música, embora com um toque progressivo dos teclados ( esta é minha impressão ). Gostei muito da presença percurssiva em Campos Elíseos, o arranjo dando uma fluidez à percurssão fazendo o som seguir linear ( mas sem ser chato ). Tem mais coisas para ouvir, mas como sempre quero que os leitores vão à fonte. É assim que se faz. No mais, quero dizer que gostei muito do que ouvi. Só queria fazer um apelo ao meu querido Adriano, brinde este velho marujo com uma composição fortemente marcada por algum ritmo nordestino ( um baião, um frevo...). Sei que voce sabe misturar.

sábado, 12 de março de 2011

Cavalo doido...Cavalo de pau - Alceu Valença!

Como o próprio Alceu declara em seu site - "Disseram que não ia vender...e vendeu um milhão e meio de cópias". Aí eu completo...tomaram, papudos!?! Assim começo a falar deste disco, um disco que eu adoro. 1982, o sul reaprendendo a respeitar o nordeste, com gente do nível de Zé Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e tantos outros gerando pérolas musicais uma atrás da outra. Então o trovador poeta Alceu Valença falou - "Se eu rimar rima com rima, é tangerino tangerina, Pirapora Petrolina, se eu rimar rima com rima". Não parece coisa de um cego repentista em uma feira no nordeste?Mas a mágica é que o som é moderno e traz a emoção antiga. A viola do cego é elétrica. O guitarrista Paulo Raphael não deixa por menos e Jaques Morelenbaum faz o cello lembrar uma rabeca. Eita música arretada...Rima com rima. E veja as fotos do encarte, ninguem poderia ostentar um visual mais rocker que Alceu e sua trupe. 
 Antes de prosseguir falando das músicas, deixe-me elogiar a capa. Uma idéia criativa e simples, e gosto de idéias criativas e simples com um resultado bonito no final. A guitarra segue ainda com um clima totalmente oitentista, com os delays e chorus criando a ambiência para Tropicana, e deixe eu dizer uma coisa...poucos discos de mpb tinham uma guitarra com tanta personalidade naquela época.Quantas moças bonitas de olhar agatinhado, quantas onças pintadas surgiram ao som de Como dois animais. Pelas ruas que andei, Martelo alagoano e Lava  mágoas seguem a mesma linha. Um som marcadamente típico, que remete ao nordeste direto. E Cavalo de Pau, com certeza vai te lembrar alguem de pelo claro, alguma boneca dourada, e o vento fazendo onda pelo milharal. Maracatu fecha o disco e não precisa de explicação. É maractu, é o nordeste, o cego Aderaldo de novo, o fogo do sol no espelho luzente. Ei, não espere mais, vá correndo procurar este disco. Aviso que não é fácil de encontrar. Mas, corra. Procure, encontre e ouça. Ele é muito bom.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Traduzir-se, traduz...Raimundo Fagner!


Existem alguns discos...que discos. Se já tivessem inventado a máquina do tempo, eu pegaria uma carona até o ano de 1981,  e lá chegando,  correria até onde Raimundo Fagner estaria gravando o disco Traduzir-se e diria a ele que não lançasse este disco naquela hora. Não, nem mesmo naquele ano. Que esperasse um pouco mais, pois este seria o melhor disco de sua carreira. Seria aquele disco que o artista grava, e todos os que vierem depois ficarão devendo alguma coisa. Nós, os fãs, ficamos esperando algo que consideremos  à altura...e nunca mais virá. Guardasse para uma hora de necessidade ( que tal agora ? ), quando ansiamos por um lance de brilho espetacular. Pois é, Traduzir-se é tudo isto e muito mais. Gravado na Espanha, com gosto de Nordeste, mouros, ciganos flamencos, fruta na feira e terra molhada. Há uma canção,  Trianera, canção de Fagner e Fausto Nilo. Uma canção flamenca? Não sei. Sei que é maravilhoso o coro gitano formado por Carme e Maria Heredia. E quando eu li os créditos no vinil, eu soube que parte do som flamenco que eu ouvia estava vindo diretamente de cavaquinhos. É meu cumpadi, músico é músico, e nós brazucas somos tudo e mais um pouco. Mas o disco é aberto por Fanatismo, que é um  poema de Florbela Espanca, magistralmente musicado por Fagner. 
A introdução de Años feita em violões ovation ( muito na moda à época ) preparam o clima para a poderosa voz da super cantora argentina  Mercedes Soza. Não há o que dizer, é só ouvir e correr para comprar tudo de Mercedes Soza que encontrar. Verde de Manazanita e Garcia Lorca..."Verde que te quiero verde", nos prepara para a já citada Trianera. "Disse uma voz popular, ?quem empresta uma escada para subir ao altar, para tirar os cravos de Jesus, o Nazareno?", é o que diz Fagner no primeiro verso de La Saeta, e logo é acompanhado pela voz forte e marcante de Joan Manoel Serrat. O clima é mantido pelas cordas conversando entre si. Violões ovation + contra-baixo bem marcado. Uma bateria econômica e sincera completam a cena. E a fruta? E a feira? Simplesmente escute Flor de Algodão. Tinha que ter melancolia, tinha de ter o drama, tinha de ter o toureiro. Então temos Málaga. E a poesia novamente nos invade...como deve ser sempre. O título do disco se faz música. É Traduzir-se que nos inquieta. É Ferreira Gullar que nos traduz sem nossa permissão. E a poesia precisa de permissão? "Será arte?". Não sei porque, mas uma lembrança de Dom Quichote e Sancho Pança se apresenta sempre quando a última música do disco começa. La leyenda del tiempo, e a voz marcante de Camaron de La Isla nos fazem ver moinhos, não sei bem por que. Acredito que este disco é obrigatório para quem só conhece Fagner apenas de quinze anos para cá. É um disco bem feito, recheado de excelentes artistas, marcado por arranjos primorosos. Aliás, este disco é obrigatório para quem quer poder dizer que realmente conhece o trabalho de Raimundo Fagner. Abraços e até a próxima.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Voce conhece Antonio Adolfo ? Não ? Escute.....

Tá bem, não vou posar aqui de porretão, que conhece tudo. Já conhecia sim Antonio Adolfo desde os anos noventa, mas apenas pelo seu livro  "O livro do músico". Confesso que ouvia "Samarina", "Juliana", "Teletema" sem ligar este sucessos ao seu nome. Pesquisando pela internet deparei com o seu site e então entrei em contato com sua história e seus discos que lá estão para serem comprados. http://www.antonioadolfo.com.br/. 
O disco acima foi gravado em 1969, e é obrigação para quem gosta de música, faz ou pretende fazer música. Quem toca ? Esta turma : Luizão Maia - baixo, Victor Manga - bateria, Luiz claudio Ramos - guitarra, Julie e Bimba - vocais. Vou dar uma idéia...vão direto para a última música ( teletema ). Com certeza alguém vai dizer...Pôxa, então essa música é desse cara! Ahá, as palavras atemporal e eterno significam algo para voces? Antes que eu esqueça, preste atenção especial ao som do piano. Aliás pode parecer redundante, o som do disco é super especial, com aquela cara de artesanal que eu gosto. Mas quem é Antonio Adolfo? Poderia dizer que ele vem fazendo música desde os anos sessenta, já foi parceiro de gente como Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, que desde 1985 ele se dedica a sua escola de música "Centro Musical Antonio Adolfo", mas como já disse antes...confio na curiosidade dos leitores. Sei que vocês irão buscar na fonte. Que tal o prórpio Antonio Adolfo falando de seu trabalho? Abaixo uma entrevista onde ele fala e toca para o entrevisador.
Música brasileira....





segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Zé Ramalho...O Apocalipse...E um sonho que eu tive. Força Verde!

1982, dezenove anos depois do nascimento, e eu dançava tendo como trilha sonora o desespero de uma poesia sem luar. Espinho de mandacarú espetado no coração. Escevendo poemas sobre amigos antigos e mortos na frente do bar. E a música de um Paraibano beato e visionário ecoando na alma. Três discos repletos de mensagens apocalipticas e gritadas por esta voz saída da trombeta do quarto anjo no quarto canto da terra no último dia do juízo, jaziam em minha bagagem atravessada nas costas. E chegou ele...o quarto capítulo, chamado de Força Verde. Não foi fácil entender a mensagem. Recém saído da terceira lâmina, ainda cavalgando com os cavalos do cão, tive que ouvir duas vezes seguidas antes de assimilar as "algas de mercúrio". Mas vamos do começo.

 Um piano quase em prelúdio, por isto estranhei. Não identifiquei o sertão que eu estava acostumado a ouvir em suas obras logo de cara. Mas a primeira frase apresentou a Força verde, como uma pequena chuva que cresce e se transforma em temporal. Sei lá se era o Hulk ou não. Que seja. Para mim, era a raiva, a frustação dos dezenove anos lutando contra a pobreza e a incerteza sobre como seria os vinte. A única certeza era a luta pela frente. Pouca chance de vencer, muitas maneiras de morrer..."E voce deseja saber se há algo que possa acalmá-lo outra vez.." A voz de Fagner já havia avisado sobre as "Eternas ondas", mas é neste disco que está a versão definitiva. O arranjo etéreo, um órgão permeando a harmonia eternamente cercando a voz quase distorcida por um efeito metálico. Pois é..."Se teu amigo vento não te procurar..."
E quem nunca desejou subir o Monte Olímpia...e ter Hércules e Aquiles como irmãos? Pois é, Minerva agora é minha mãe. Quem mais, seria tão certeiramente louco quanto minha própria loucura em meus dezenove ciclos de desespero abissal? Neste ponto devo fazer uma pausa para dizer que vivi este disco. Só quem está triste sabe ouvir "Visões de Zé Limeira sobre o final do século XX". Uma melancolia calma, de um ancião sentado sobre um monte observando as águas invadirem a terra lá embaixo, livrando o mundo da presença dos homens..os "seres brancos e azuis".  Banquete de Signos....o zabumba e a sanfona trazem o sertão. Trazem alguma cidade pequena onde o mato cheira a saudade..."na peleja do homem que vier..." faz doer de medo por talvez não ter sido este homem. Mas a vida é assim.
Um brejo, um rio, um parente antigo dando a mão ajudando a atravessar. Um mugido constante está no baixo de "Pepitas de fogo". Esta música me leva direto à um lugar secreto em meu coração, onde moram meus ancestrais, o "povo que nunca voa, que nasce com qualquer estrela, que nada em qualquer lagoa..". E neste lugar, há um brejo onde se pesca, enquanto bois pastam simplesmente. E cá estou eu, olhando em um espelho que aponta para o passado. Mas este disco para mim podia ser apenas esta música chamada "Beira-mar capítulo dois". O arranjo etéreo e eterno. Obra prima. Toda a imaginação ferida pelo conflito de pensamentos, mitos, lendas e certezas "aonde a ordem supera as humanas". Mas quem pode com o mar?..."Somente Netuno, que é mestre do mar...". Obrigado mestre-beato  Zé, por nos lembrar de nossa pequenez diante da natureza. E vemos tsunamis, vendavais, tufões...sempre a eterna água...e não aprendemos. O mar nunca adormece como voce nos diz. 
"E nas paredes da pedra encantada, os segredos talhados por Sumé...". Este é o mote, e este tipo de poesia nordestina é sempre assim,os versos  terminam com o mote... Rica, a  nossa poesia nordestina. Então de novo me vejo aos dezenove..."És a fonte maior do meu desejo, És a única fortaleza mansa..."."Amálgama" , a penúltima mensagem nesta viagem. E um violão em feitio de regional. Os bordões fortes, marcando como se tocados por velhos violeiros em alguma varanda sob a luz de candeeiros. Mesmo assim, os "Cristais do tempo" nos falam do "clarão das capitais". E assim, ao fim do disco, ao fim do sonho, o fim do sono. Até o próximo anoitecer, trazendo o próximo delírio.