sábado, 26 de março de 2011

Elba Ramalho...Ave de Prata...Capim do Vale...Elba Ramalho


Normalmente escrevo sobre apenas um disco em cada post aqui em meu blog. Mas neste caso não há outra saída. Meu coração ainda não decidiu de qual dos dois discos sobre os quais quero falar ele gosta mais. Quantas lembranças em cada um. Quantas tempestades de emoções. Quantos trovões sacudindo a alma. Mas tudo bem, cabem os dois em meu coração . E são eles Ave de Prata e Capim do Vale. Primeiro e segundo trabalhos de Elba respectivamente. São parecidos no som e nas lembranças. O mesmo mandacarú rasgando a carne, o mesmo carcará voando alto sob o sol. Após ouvir todo o disco Ave de Prata, fica a certeza: este disco era necessário, essa cantora tinha de existir. Canta coração, um recado de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando, traz um sentimento morno ao coração. Uma guitarra que acredito ser de Robertinho do Recife ( me corrijam por favor se estiver enganado), faz meu "alegre coração triste como um camelo" chorar a ausencia da namorada. Primeiro disco, primeira música, primeiro impacto. Chico Buarque não poderia escolher alguem melhor para cantar Não sonho mais. Eu é que vivo sonhando com aqueles bons tempos. A sanfona lembra que o forró é bom, mesmo moderno. Não vou ficar aqui dizendo que antigamente se fazia discos com um time de primeiríssima linha de músicos, é só pesquisar a ficha técnica e confirmar. Zabumba, sanfona, triângulo e Elba Ramalho. "Eu sonhei contigo e cai da cama...diz que me ama e eu não sonho mais". Veja se não dá vontade de ver a lua nascer em uma cidadezinha do interior ao ouvir Veio d´agua. A voz de Elba causou estranheza naqueles anos efervescentes. Alguns diziam que ela gritava. Este meio que baião Razão de Paz deve ter ajudado neste engano. A voz forte e cristalina é alta e cortante. Eu adorei já na primeira palavra. Uma coisa a aprender com este disco e principalmente nesta faixa chamada Baile de máscaras, é o uso de elementos modernos perfeitamente casados com o tradicional. E esta música apesar de não ser nenhum hit, ou alguma obra prima, tem uma estrutura gostosa de ouvir, simples, franca e direta. Filho das Índias foge um pouco do clima, mas não estraga o disco. Mas a faixa título, Ave de Prata, esta sim é responsável pela emoção principal  que traduz o disco. Tinha de ser de Zé Ramalho. Violões e bordões e cavaquinhos e o lamento na voz de Elba. Bastava isto mas logo após temos Kukukaya - o jogo da asa da bruxa. "São quatro jogadores nesta mesa, frente a frente para jogar", eia, eia o jogo sujo da vida. E meu amor onde andava nestes tempos? Kukukaya eu quero voce aqui, presta atenção em mim. Ainda temos outras coisas...ouça o disco.
Uma cascavel armando o bote e balançando o maracá. A segunda investida, o mesmo som perfeito, ainda o nordeste queimando sob o céu azul sem sol dentro do Caldeirão dos Mitos. Forró, um fole de oito baixos no sertão. Quem já se apaixonou sabe o Nó cego que dá no peito. Essa canção tem algo de maracatú no sacolejo da voz de Elba somado a um som de cítara. Eitcha nóis. Pés de Milho, andarilhos como nossos filhos. Um naipe de cordas emoldura com elegância clássica a melodia andarilha desta canção. Pura emoção. Depois vem um revisitação de Légua Tirana de Luiz Gonzaga ( sua benção ) e Humberto Teixeira. Quem teve a felicidade de ouvir mestre Lua cantar esta música, sabe da responsabilidade desta moça recem-chegada ao mundo do estrelato da mpb. Porto da Saudade tem todos os elementos nordestinos, desde a letra, até o triângulo marcando sempre e até o fim da canção. O auge da reverência ao nordeste está na interpretação viceral de O violeiro de Elomar. Só Elba e uma viola ponteada. "Amor, forria, viola, nunca dinheiro. Viola,forria, amor, dinheiro não". Como disse antes, tem mais coisa no disco. Ouçam estes discos...eles são muito bons.

sábado, 19 de março de 2011

The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars - David "Classic Rock" Bowie

Um amigo me questionou, sobre a falta de postagens a respeito bandas novas neste meu blog. A princípio me quedei pensativo, mergulhado em uma severa auto-crítica. Estaria eu me portando como um velho birrento e chato, que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem ? Será ? Aí então chamei minhas filhas de dezoito e onze anos respectivamente, e pedi o nome de uma banda nova. Elas me deram alguns nomes, todos de dez anos atrás, e me pediram licença para continuar ouvindo meu disco de David Bowie ,"Ziggy Stardust". Este sobre o qual irei escrever agora. Ali estava minha resposta. Então eu pensei, não estou fora de sintonia, e continuo aberto ao novo. Apenas o novo não está vindo do meu agrado. E tenho que ser fiel ao meu propósito. Não importa se é novo ou velho, tem de ser bom. E por falar em ser bom, que tal um clássico pop de 1972 ? Cheio de androginia, ficção e uma boa pegada rock setentista...e muito talento. É um album conceitual, muito em voga na época. Um album conceitual, para quem não sabe, é um album em que todas as músicas tratam de um tema central. Como um enredo, uma história musicada. Existem lendas sobre  quem é Ziggy.Uns dizem ser um cantor metade alienígena, que fazia o clássico estilo selvagem, sexo&drogas,&rock and roll. Lendas à parte, a sonoridade do disco é típica de Bowie.
Hard rock total em momentos como Sufragette City, pop em baladas como a clássica Starman e deliciosamente indefinido em Ziggy Stardust. Mas, seja velho, atemporal ou seja lá o que,  eu quero, preciso, que me apresentem um disco feito nos últimos dez anos que se equipare a este, em som e criatividade. Dessa vez não quero me alongar muito. Não quero tomar o tempo do leitor. Quero sim, que você leitor, procure em algum lugar, e encontre rapidamente, e ouça atentamente este disco. Com certeza voce irá atrás de outros trabalhos de David Bowie. Talvez, voce passe a ter, assim como eu, às vezes, somente às vezes, a sensação de que a imaginação criativa parou, estancou no tempo,  a mais de vinte anos atrás.
 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Música eletrônica alemã com emoção! Pode? - Pornophonique


A minha música eletrônica   não é a que se ouve em raves por aí a fora. Ela ainda mistura bits e sentimentos. Paradoxo ? Talvez. Mas quem vem desde os tempos de Giorgio Moroder, passando por  Kraftwark sabe o que é isto. E quando deparei com este primeiro disco do grupo Pornophonique no site Jamendo, tive confirmada a certeza de que vale a pena ser fiel a você mesmo e ao que você acredita. Este disco  "8-bit lagerfeuer"  é fruto de um projeto iniciado em 2003 pelos artistas Kai Richter e Felix Heuse. Eles usam guitarra, um computador antigo c64 e um gameboy para criar seus sons. Como não obtiveram imediata atenção de gravadoras, resolveram colocar sua música na internet, logo obtendo mais de 40.000 ouvintes. Disponibilizaram suas músicas para download e logo alcançaram a marca de  600.000 audições no website  last.fm. Finalmente  em 2007,  lançaram este álbum,  e desde então vem realizando shows em vários países da Europa.
 Sad, sad robot...hehe. Este é pra quem não tem medo de música estranha. Desafio quem tiver coragem a baixar e ouvir este disco...depois me contem.

domingo, 13 de março de 2011

Adrianoijazz - Brazilian Music! Boa música instrumental do Brasil para o mundo!


Existe um lugar não muito longe do arco-íris, chamado www.reverbnation.com e que merece ser visitado. Foi lá, garimpando boa música como sempre faço, que me deparei com um projeto chamado adrianoijazz. Esse moço, Adriano Ribeiro, é um saxofonista de primeiríssima linha e isto pode ser comprovado ouvindo-se as faixas disponibilizadas no endereço  http://www.reverbnation.com/adrianoijazz. Vão lá conferir. Ele descreve seu estilo como Jazz / Lounge. Se me perguntassem, eu apenas diria  Jazz Fusion, o que não é pouco, nem fácil. Lembram de um cara chamado Coltrane? E um outro chamado Miles Davis?

O clima sofisticado criado pela música de Adriano Ribeiro me remete a um bourbon, um scotch, um bom local ao final de uma tarde qualquer. A 'Rita'  do Adriano, é a primeira música disponível para download. Os fortes acordes iniciais de cara me lembram o Alan Parsons Project. É mole? Gostei muito do teclado temperado com um chorus fazendo uma cortina harmônica para uma guitarra cristalina dividir a melodia com o sax. Apesar da cara lounge, dá pra sentir um sotaque brasileiro na fala da Rita, hehe. Bate bola na cruzada segue a linha da primeira música, embora com um toque progressivo dos teclados ( esta é minha impressão ). Gostei muito da presença percurssiva em Campos Elíseos, o arranjo dando uma fluidez à percurssão fazendo o som seguir linear ( mas sem ser chato ). Tem mais coisas para ouvir, mas como sempre quero que os leitores vão à fonte. É assim que se faz. No mais, quero dizer que gostei muito do que ouvi. Só queria fazer um apelo ao meu querido Adriano, brinde este velho marujo com uma composição fortemente marcada por algum ritmo nordestino ( um baião, um frevo...). Sei que voce sabe misturar.

sábado, 12 de março de 2011

Cavalo doido...Cavalo de pau - Alceu Valença!

Como o próprio Alceu declara em seu site - "Disseram que não ia vender...e vendeu um milhão e meio de cópias". Aí eu completo...tomaram, papudos!?! Assim começo a falar deste disco, um disco que eu adoro. 1982, o sul reaprendendo a respeitar o nordeste, com gente do nível de Zé Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e tantos outros gerando pérolas musicais uma atrás da outra. Então o trovador poeta Alceu Valença falou - "Se eu rimar rima com rima, é tangerino tangerina, Pirapora Petrolina, se eu rimar rima com rima". Não parece coisa de um cego repentista em uma feira no nordeste?Mas a mágica é que o som é moderno e traz a emoção antiga. A viola do cego é elétrica. O guitarrista Paulo Raphael não deixa por menos e Jaques Morelenbaum faz o cello lembrar uma rabeca. Eita música arretada...Rima com rima. E veja as fotos do encarte, ninguem poderia ostentar um visual mais rocker que Alceu e sua trupe. 
 Antes de prosseguir falando das músicas, deixe-me elogiar a capa. Uma idéia criativa e simples, e gosto de idéias criativas e simples com um resultado bonito no final. A guitarra segue ainda com um clima totalmente oitentista, com os delays e chorus criando a ambiência para Tropicana, e deixe eu dizer uma coisa...poucos discos de mpb tinham uma guitarra com tanta personalidade naquela época.Quantas moças bonitas de olhar agatinhado, quantas onças pintadas surgiram ao som de Como dois animais. Pelas ruas que andei, Martelo alagoano e Lava  mágoas seguem a mesma linha. Um som marcadamente típico, que remete ao nordeste direto. E Cavalo de Pau, com certeza vai te lembrar alguem de pelo claro, alguma boneca dourada, e o vento fazendo onda pelo milharal. Maracatu fecha o disco e não precisa de explicação. É maractu, é o nordeste, o cego Aderaldo de novo, o fogo do sol no espelho luzente. Ei, não espere mais, vá correndo procurar este disco. Aviso que não é fácil de encontrar. Mas, corra. Procure, encontre e ouça. Ele é muito bom.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Traduzir-se, traduz...Raimundo Fagner!


Existem alguns discos...que discos. Se já tivessem inventado a máquina do tempo, eu pegaria uma carona até o ano de 1981,  e lá chegando,  correria até onde Raimundo Fagner estaria gravando o disco Traduzir-se e diria a ele que não lançasse este disco naquela hora. Não, nem mesmo naquele ano. Que esperasse um pouco mais, pois este seria o melhor disco de sua carreira. Seria aquele disco que o artista grava, e todos os que vierem depois ficarão devendo alguma coisa. Nós, os fãs, ficamos esperando algo que consideremos  à altura...e nunca mais virá. Guardasse para uma hora de necessidade ( que tal agora ? ), quando ansiamos por um lance de brilho espetacular. Pois é, Traduzir-se é tudo isto e muito mais. Gravado na Espanha, com gosto de Nordeste, mouros, ciganos flamencos, fruta na feira e terra molhada. Há uma canção,  Trianera, canção de Fagner e Fausto Nilo. Uma canção flamenca? Não sei. Sei que é maravilhoso o coro gitano formado por Carme e Maria Heredia. E quando eu li os créditos no vinil, eu soube que parte do som flamenco que eu ouvia estava vindo diretamente de cavaquinhos. É meu cumpadi, músico é músico, e nós brazucas somos tudo e mais um pouco. Mas o disco é aberto por Fanatismo, que é um  poema de Florbela Espanca, magistralmente musicado por Fagner. 
A introdução de Años feita em violões ovation ( muito na moda à época ) preparam o clima para a poderosa voz da super cantora argentina  Mercedes Soza. Não há o que dizer, é só ouvir e correr para comprar tudo de Mercedes Soza que encontrar. Verde de Manazanita e Garcia Lorca..."Verde que te quiero verde", nos prepara para a já citada Trianera. "Disse uma voz popular, ?quem empresta uma escada para subir ao altar, para tirar os cravos de Jesus, o Nazareno?", é o que diz Fagner no primeiro verso de La Saeta, e logo é acompanhado pela voz forte e marcante de Joan Manoel Serrat. O clima é mantido pelas cordas conversando entre si. Violões ovation + contra-baixo bem marcado. Uma bateria econômica e sincera completam a cena. E a fruta? E a feira? Simplesmente escute Flor de Algodão. Tinha que ter melancolia, tinha de ter o drama, tinha de ter o toureiro. Então temos Málaga. E a poesia novamente nos invade...como deve ser sempre. O título do disco se faz música. É Traduzir-se que nos inquieta. É Ferreira Gullar que nos traduz sem nossa permissão. E a poesia precisa de permissão? "Será arte?". Não sei porque, mas uma lembrança de Dom Quichote e Sancho Pança se apresenta sempre quando a última música do disco começa. La leyenda del tiempo, e a voz marcante de Camaron de La Isla nos fazem ver moinhos, não sei bem por que. Acredito que este disco é obrigatório para quem só conhece Fagner apenas de quinze anos para cá. É um disco bem feito, recheado de excelentes artistas, marcado por arranjos primorosos. Aliás, este disco é obrigatório para quem quer poder dizer que realmente conhece o trabalho de Raimundo Fagner. Abraços e até a próxima.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Voce conhece Antonio Adolfo ? Não ? Escute.....

Tá bem, não vou posar aqui de porretão, que conhece tudo. Já conhecia sim Antonio Adolfo desde os anos noventa, mas apenas pelo seu livro  "O livro do músico". Confesso que ouvia "Samarina", "Juliana", "Teletema" sem ligar este sucessos ao seu nome. Pesquisando pela internet deparei com o seu site e então entrei em contato com sua história e seus discos que lá estão para serem comprados. http://www.antonioadolfo.com.br/. 
O disco acima foi gravado em 1969, e é obrigação para quem gosta de música, faz ou pretende fazer música. Quem toca ? Esta turma : Luizão Maia - baixo, Victor Manga - bateria, Luiz claudio Ramos - guitarra, Julie e Bimba - vocais. Vou dar uma idéia...vão direto para a última música ( teletema ). Com certeza alguém vai dizer...Pôxa, então essa música é desse cara! Ahá, as palavras atemporal e eterno significam algo para voces? Antes que eu esqueça, preste atenção especial ao som do piano. Aliás pode parecer redundante, o som do disco é super especial, com aquela cara de artesanal que eu gosto. Mas quem é Antonio Adolfo? Poderia dizer que ele vem fazendo música desde os anos sessenta, já foi parceiro de gente como Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, que desde 1985 ele se dedica a sua escola de música "Centro Musical Antonio Adolfo", mas como já disse antes...confio na curiosidade dos leitores. Sei que vocês irão buscar na fonte. Que tal o prórpio Antonio Adolfo falando de seu trabalho? Abaixo uma entrevista onde ele fala e toca para o entrevisador.
Música brasileira....