sexta-feira, 11 de março de 2011

Traduzir-se, traduz...Raimundo Fagner!


Existem alguns discos...que discos. Se já tivessem inventado a máquina do tempo, eu pegaria uma carona até o ano de 1981,  e lá chegando,  correria até onde Raimundo Fagner estaria gravando o disco Traduzir-se e diria a ele que não lançasse este disco naquela hora. Não, nem mesmo naquele ano. Que esperasse um pouco mais, pois este seria o melhor disco de sua carreira. Seria aquele disco que o artista grava, e todos os que vierem depois ficarão devendo alguma coisa. Nós, os fãs, ficamos esperando algo que consideremos  à altura...e nunca mais virá. Guardasse para uma hora de necessidade ( que tal agora ? ), quando ansiamos por um lance de brilho espetacular. Pois é, Traduzir-se é tudo isto e muito mais. Gravado na Espanha, com gosto de Nordeste, mouros, ciganos flamencos, fruta na feira e terra molhada. Há uma canção,  Trianera, canção de Fagner e Fausto Nilo. Uma canção flamenca? Não sei. Sei que é maravilhoso o coro gitano formado por Carme e Maria Heredia. E quando eu li os créditos no vinil, eu soube que parte do som flamenco que eu ouvia estava vindo diretamente de cavaquinhos. É meu cumpadi, músico é músico, e nós brazucas somos tudo e mais um pouco. Mas o disco é aberto por Fanatismo, que é um  poema de Florbela Espanca, magistralmente musicado por Fagner. 
A introdução de Años feita em violões ovation ( muito na moda à época ) preparam o clima para a poderosa voz da super cantora argentina  Mercedes Soza. Não há o que dizer, é só ouvir e correr para comprar tudo de Mercedes Soza que encontrar. Verde de Manazanita e Garcia Lorca..."Verde que te quiero verde", nos prepara para a já citada Trianera. "Disse uma voz popular, ?quem empresta uma escada para subir ao altar, para tirar os cravos de Jesus, o Nazareno?", é o que diz Fagner no primeiro verso de La Saeta, e logo é acompanhado pela voz forte e marcante de Joan Manoel Serrat. O clima é mantido pelas cordas conversando entre si. Violões ovation + contra-baixo bem marcado. Uma bateria econômica e sincera completam a cena. E a fruta? E a feira? Simplesmente escute Flor de Algodão. Tinha que ter melancolia, tinha de ter o drama, tinha de ter o toureiro. Então temos Málaga. E a poesia novamente nos invade...como deve ser sempre. O título do disco se faz música. É Traduzir-se que nos inquieta. É Ferreira Gullar que nos traduz sem nossa permissão. E a poesia precisa de permissão? "Será arte?". Não sei porque, mas uma lembrança de Dom Quichote e Sancho Pança se apresenta sempre quando a última música do disco começa. La leyenda del tiempo, e a voz marcante de Camaron de La Isla nos fazem ver moinhos, não sei bem por que. Acredito que este disco é obrigatório para quem só conhece Fagner apenas de quinze anos para cá. É um disco bem feito, recheado de excelentes artistas, marcado por arranjos primorosos. Aliás, este disco é obrigatório para quem quer poder dizer que realmente conhece o trabalho de Raimundo Fagner. Abraços e até a próxima.

10 comentários:

  1. Existe uma carga de preconceito enorme no que vou dizer, mas eu detesto Fagner. Só conheço mesmo as "pops" que tocaram exaustivamente nas tvs e rádios tipo "quem dera ser um peixe para em seu limpido aquario mergulhar... fazer borbulhas..."

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  2. Parabéns pelo espaço! Fagner é MARAVILHOSO e a Arte desse disco é indiscutível! Muita ARTE num disco só, com uma turma da pesada! Tenho meu LP aqui, adorei poder ouvi-lo aqui e agora...

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    1. Obrigado amigo, pela participação. Fico feliz que tenha gostado do blog. Quando tenho um feedback assim continuo com vontade de escrever. Ah,e Fagner é realmente demais.

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  3. Caro autor deste blog, não é só a você que a presença de Fagner marca desde a infância. Meu pai é fã convicto até hoje desse grande músico e cantor cearense (única voz que, na minha opinião, é páreo para a do grande Nelson Gonçalves), tendo colecionado os vinis do Fagner desde o primeiro, o álbum Manera Fru Fru Manera, lançado em 1973, até o álbum Romance no Deserto, de 1987. Ouvi todos esses álbuns durante toda minha vida e fiz questão de adquirir as remasterizações de Ave Noturna (1975), Orós (1977), Beleza (1979) e Traduzir-se (1981), CDs que guardo e sempre guardarei com todo carinho! Não consigo imaginar minha vida sem o canto rascante de Raimundo Fagner, e concordo com você quando diz que Traduzir-se é o melhor disco dele! Simplesmente lindo, impecável, sonoridades da mais alta qualidade, e o convite de renomados artistas de língua espanhola! Outro disco dele que acho que está à mesma altura é Beleza, outro lindo disco, com canções também do mais alto lirismo e sonoridade, junto com a voz potentíssima do Fagner (aliás, quem bem notar, verá que no disco Beleza o Fagner prova ter uma garganta como nenhum outro cantor da MPB! Em tempo algum vi alguém potenciar a voz como ele faz nas faixas Quer Dizer e Elizete!). No mais, o disco Traduzir-se conta com a música Trianera, do próprio Fagner e do Fausto Nilo, canção que considero a mais bela de toda sua carreira!
    Realmente, quem de Raimundo Fagner só conhece Borbulhas de Amor, Deslizes e Cabecinha no Ombro não sabe o que está perdendo desse grande pilar da MPB, e não conhece a vigésima parte de sua vasta, bela e diversificada obra! Obra que comecei a conhecer e gostar por conta do meu velho pai, e ainda hoje posso dizer que Raimundo Fagner Cândido Lopes é muito mais do que pensam aqueles que só o rotulam como um simples forrozeiro... Logo no início da carreira ele já provou estar entre os melhores expoentes da música nacional, e ainda hoje continua firme, enquanto que tantos outros grandes expoentes da mesma época ou de épocas aproximadas à dele já perderam toda sua criatividade!

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    1. Caro amigo, muito obrigado pelo comentário recheado de informações e cumplicidade na apreciação deste extraordinário cantor. E viva a verdadeira música brasileira.

      Abraços.

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  4. Poder ouvir TRADUZIR-SE, é um presente de Deus, Fagner e Ferreira Gullar. MARAVILHA !!!!

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  5. Para mim é o melhor CD do Fagner! O Fagner foi à Espanha e se juntou com grandes feras dequele país, como: Pablo Milanés, Manzanita, Joan Manuel Serrat, Camaran de La Isla... além disso tem Florbela Espanca, Mercedes Sosa, Garcia Lorca... é Arte, esse disco!

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    1. Opa, legal que voce conheceu este meu simples blog. Penso em atualiza-lo e continuar postando mais coisas. Abraços.

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  6. Pessoal, preciso deste disco. Quem pode me ajudar? Não consigo baixar em nenhum lugar. Obrigado, Sebastião

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